Gramado foi marcada por uma resposta rápida e coordenada. Os eventos climáticos vieram para ficar
- Tela Tomazeli | Editora

- 17 de ago.
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Atualizado: 17 de ago.
GRAMADO, RS - "O centro do país vai ficar mais seco e nós mais úmidos!" Luiz Bressani
Câmara de Gramado promove debates sobre ações e estratégias após tragédia climática de maio de 2024.
Em uma resposta rápida e coordenada aos eventos climáticos de maio de 2024, que atingiram o Rio Grande do Sul, a Câmara de Gramado realizou painéis para debater as ações e estratégias adotadas. O evento, que contou com a participação de autoridades e especialistas, visou garantir a transparência e manter a população informada sobre as medidas tomadas, os desafios e os planos futuros. A iniciativa reafirma o papel da Câmara como uma ponte entre a comunidade e as decisões que moldam o futuro da cidade, promovendo diálogo, fiscalização e transparência em momentos decisivos.
Participaram: Cristiane Bandeira: Secretária de Meio Ambiente e porta-voz do Gabinete de Crise; Mariana Melara Reis: Procuradora do Município e porta-voz do Gabinete de Crise; Luiz Bressani: Engenheiro civil e especialista em geotécnica, também parte do Gabinete de Crise; Ilton Gomes: Secretário de Assistência Social; Willian Camillo: Secretário de Obras; Eliezer Lima: Secretário de Agricultura; Juliana Fish: Chefe do Departamento de Defesa Civil.
A iniciativa foi da Comissão Temporária de Defesa Civil da Câmara, formada pelos vereadores Roberto Cavallin (presidente), Professora Denise (vice-presidente) e Neri da Farmácia (membro).
A iniciativa do vereador Roberto Cavallin é de grande significado e carrega um forte impacto emocional, que pode ser plenamente apreciado ao assistir ao vídeo e acompanhar as explanações completas, com imagens. É importante destacar que Cavallin teve uma atuação incansável durante o período dos desastres ambientais. Ele esteve presente nos galpões de triagem e colaborou de perto com as forças de segurança, demonstrando um compromisso que se tornou uma das principais bandeiras de seu mandato.


Detalhes e estratégias discutidas nos painéis
A gravidade dos eventos demandou um trabalho conjunto de diversos setores da Prefeitura, liderados por um Gabinete de Crise e uma força-tarefa, que se reuniram para apresentar à comunidade as ações já tomadas e as estratégias de prevenção.
Uma síntese da fala dos oradores:
Mariana Melara Reis (Procuradora do Município): A procuradora destacou que o trabalho do Gabinete de Crise foi fundamental para enfrentar uma "crise dentro da crise", referindo-se não apenas à catástrofe natural, mas também ao desafio de combater a desinformação. Ela detalhou as ações legais e administrativas, como a ativação de estudos para obras de contenção e as Requisições administrativas de Bens em áreas de risco. Mariana ressaltou que a resposta jurídica foi tão "consistente, séria, estudada e transparente" que, mesmo diante da gravidade dos eventos, o município de Gramado não enfrentou ações judiciais significativas.
A Procuradora fala sobre as desapropriações e da falta de documentação ao explicar que o município só pode efetuar o pagamento para quem é o proprietário legal do imóvel. Ela menciona que muitas pessoas estavam em uma situação precária de titularidade, ou seja, sem a documentação adequada que comprovasse a propriedade. Algumas tinham apenas a posse, por terem comprado sem contrato de compra e venda ou por não terem feito inventário. Nesses casos, o município não pode pagar a indenização por não terem o título de propriedade. Para resolver isso, essas pessoas judicializaram a questão, com o apoio da Defensoria Pública do Estado, para regularizar a documentação e, assim, poderem receber o pagamento pela desapropriação.
Cristiane Bandeira (Secretária de Meio Ambiente): A secretária Cristiane Bandeira ressaltou a urgência em abordar as mudanças climáticas, afirmando que elas já são uma realidade e que os municípios e as comunidades mais vulneráveis são os primeiros a sentir seus efeitos. Ela destacou que a solução para os desafios enfrentados não se limita a obras de reconstrução, como drenagem ou demolições, mas exige um debate técnico mais aprofundado, focado na prevenção e no planejamento urbano.
A secretária informou sobre o novo mapeamento de risco geológico de Gramado, que elevou o número de áreas suscetíveis de oito para 68 pontos. Ela mencionou a elaboração de uma "carta de aptidão à expansão urbana" em colaboração com o Serviço Geológico e fez um apelo para que não haja flexibilização das regras ambientais e urbanísticas, defendendo que a solução passa pelo fortalecimento da fiscalização ambiental e da Defesa Civil.
Ainda em sua fala, Cristiane Bandeira lembrou que as discussões sobre áreas de risco em Gramado não são recentes. Ela citou estudos do Serviço Geológico realizados em 2014 que já apontavam fragilidades no município. Esses estudos, embora desatualizados, serviram como base para o plano diretor e para o trabalho da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente. Por fim, a secretária relembrou as chuvas de novembro de 2023, que com um volume de 400 milímetros, confirmaram a necessidade de uma ação urgente e baseada em dados técnicos para a proteção da cidade.
Luiz Bressani (Engenheiro Civil): "Por que Gramado é tão especial? Temos uma rocha que não quebra. Batemos e ela soa como sino. Gramado temos um sanduiche. São declividades diferentes e a cada momento muda o material.Tu não segura um terreno com estacas".
O engenheiro Luís Bressani diz que em vez de uma "mudança" climática, que sugere um ajuste gradual, está ocorrendo uma "reorganização" climática. Isso significa que a região central do país ficará mais seca, enquanto o sul ficará muito mais úmido, com chuvas de maior intensidade. Em um mês, o Rio Grande do Sul, que normalmente recebia 120 milímetros de chuva, teve 860 milímetros. Cidades como Caxias e Bento chegaram a 1.000 milímetros, ou 1 metro de chuva.
Os quatro grandes deslizamentos de terra nos quais a equipe está envolvida são da Piratini Norte, Piratini Sul, Gil e Orlandi. Em novembro de 2013, o movimento era pequeno, com a calçada se deslocando cerca de 5 a 6 centímetros na Rua Professor Nelson de Dinnebier. Hoje, a Rua das Azaleias tem um desnível de 8 metros, comparado aos 80 centímetros de desnível em 2013. Em maio, os movimentos se aceleraram drasticamente. O Piratini Norte, que não havia se movido em novembro, deslocou 2 metros lateralmente e afundou 4 a 5 metros em duas semanas em maio. A magnitude dos deslizamentos em Gramado é incomum para áreas urbanas no Brasil. O deslizamento em Piratini Norte tem cerca de 600.000 metros cúbicos, o do Gil tem 1.200.000, e o do Orlande está na ordem de 1.000.000 de metros cúbicos. Alguns deslizamentos, como os do Quilombo e Pedras Brancas, são muito rápidos, podendo atingir velocidades de 60 a 70 km/h, impossibilitando que as pessoas escapem. Em contraste, no Piratini, o movimento foi de 2 metros por semana, dando tempo para as pessoas saírem.
A abordagem para os deslizamentos segue um protocolo de três fases: primeiro, a emergência para salvar vidas; depois, a paralisação do movimento; e, por fim, a recuperação da área. A geologia de Gramado apresenta uma inversão incomum de camadas: rocha dura pode ser encontrada acima de solo e solo alterado, e depois, rocha novamente. No loteamento Orlandi, a equipe optou pelo "método observacional" para estabilizar o movimento. Isso envolveu intervenções com drenagens laterais, que conseguiram rebaixar o nível da água em até 6 metros em alguns pontos. O monitoramento mostrou que o movimento parou após a instalação das drenagens, mesmo com chuvas intensas posteriores. A estabilização do Piratini Norte exigiu escavação, drenagem e a construção de obras como cortinas atirantadas e muros de pedra. Bressani destacou a necessidade de um modelo de projeto e a coleta de dados de sondagem e escavações para mapeamento geotécnico futuro, similar ao que foi feito no Rio de Janeiro após as chuvas de 1967.
A resposta em Gramado foi um "caso de sucesso" devido à colaboração entre a prefeitura, a defesa civil, a sociedade organizada e a equipe técnica. Ele enfatiza que o trabalho colaborativo foi fundamental para contornar os desafios e evitar processos judiciais contra a prefeitura ou o gabinete de crise. No futuro, os projetos geotécnicos deverão incluir investigações mais amplas da estabilidade lateral, não se limitando apenas à fundação das construções.
Willian Camillo (Secretário de Obras): O secretário de Obras de Gramado compartilhou a experiência e as ações de sua pasta diante dos desastres naturais que assolaram a região em 2023 e 2024. Ele destacou que a atuação inicial foi no Vale do Taquari em 2023, onde uma comitiva de Gramado, incluindo a Defesa Civil, a Secretaria de Obras e a Agricultura, buscou auxiliar os municípios afetados. Essa experiência, segundo o secretário, foi fundamental para preparar a cidade para a sua própria catástrofe, permitindo uma resposta mais prática e objetiva.
Willian descreveu dois momentos cruciais da operação em Gramado. O primeiro foi o desastre em si, focado na evacuação e salvamento de pessoas e pertences. Uma grande força-tarefa, composta por agentes da Defesa Civil, da Secretaria de Assistência Social, do Corpo de Bombeiros e da Brigada Militar, trabalhou para retirar mais de 160 famílias de suas casas durante a noite. O secretário ressaltou a dificuldade de convencer os moradores a saírem de suas residências, o que tornou a atuação ainda mais desafiadora.
Ele detalhou as obras realizadas em diversas localidades. Na Rua Gil, foram removidos degraus e está sendo feito drenagem através de Drenos Horizontais Profundos (DHP), que é um método utilizado para remover água de áreas problemáticas, como taludes, aterros e encostas instáveis, através da instalação de tubos perfurados no solo, geralmente com uma inclinação sub-horizontal. Na Linha 28, e no Quilombo, onde o acesso foi perdido, a Prefeitura conseguiu liberar recursos para a reconstrução dos locais, com previsão de finalização até outubro. No Loteamento Orlandi, foram executadas obras de drenagem de grande dimensão, e na Linha Ávila e Pedras Brancas, houve a reconstrução da pavimentação.
Eliezer Lima (Secretário de Agricultura): Eliezer traz uma visão abrangente sobre a resposta da Secretaria de Agricultura aos desastres naturais, destacando a mudança de perspectiva e a colaboração entre as secretarias. Ele ressalta que a experiência com os eventos climáticos transformou a abordagem da Secretaria, que agora adota um olhar mais criterioso, por exemplo, ao lidar com a drenagem de estradas para evitar futuros problemas. O secretário também descreve a resposta imediata, focada na desobstrução de barreiras e recuperação de acessos a propriedades e famílias, mencionando o investimento de 7.000 horas de trabalho de máquinas.
O impacto menos visível, mas significativo, na agricultura: a perda de solo fértil. Ele explica que, embora os agricultores estejam acostumados com as intempéries, a perda da camada superior do solo é um dano grave e de difícil recuperação. Em resposta a isso, ele anuncia o projeto "Terra Forte", uma parceria com o Governo do Estado para analisar e corrigir o solo, oferecendo calcário e adubo gratuitamente aos produtores. Além disso, a secretaria está trabalhando na proteção de nascentes e vertentes no interior, com o objetivo de limpar e recuperar a água.
Segundo o secretário da Agricultura, a união e o coleguismo entre as equipes das secretárias, com a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e a Brigada Militar foram fundamentais. O Eliezer menciona momentos de grande dificuldade, como quando as equipes ficaram presas por novas barreiras enquanto ajudavam a desobstruir outras vias. Ele destaca a resiliência das comunidades e a perda histórica de bens, como a igreja na Linha São Roque e Pedra Branca, ressaltando a dimensão do impacto nas comunidades rurais. Por fim, ele alerta para a necessidade de atenção contínua a sinais de movimento de terra, mesmo sem chuva, como forma de prevenção de desastres mais graves.
Juliana Fish (Chefe do Departamento de Defesa Civil): Juliana Fish detalhou a profunda reestruturação da Defesa Civil, que "é o órgão que mais teve mudanças da calamidade do ano passado para agora". Ela relatou que a Defesa Civil, que antes tinha um foco em resposta, agora tem um foco em prevenção. O órgão mapeou mais de 600 novas áreas de risco e realizou mutirões de cadastramento de famílias nas localidades do interior. A equipe também adquiriu novos equipamentos, como um drone de alta precisão, rádios e um veículo 4x4. A criação do Conselho e do Fundo de Defesa Civil é um marco, pois a partir de agora o órgão terá orçamento próprio e poderá contratar um técnico, o que é fundamental para aprimorar a avaliação de risco das residências.
Ilton Gomes (Secretário de Assistência Social) Ficamos sem gravação da fala dele para redigi texto.
No vídeo: Cristiane Bandeira: Secretária de Meio Ambiente e porta-voz do Gabinete de Cris; Mariana Melara Reis: Procuradora do Município e porta-voz do Gabinete de Crise; Luiz Bressani: Engenheiro civil e especialista em geotécnica, também parte do Gabinete de Crise. ASSISTA, é relevante!
No link abaixo você pode acessar os projetos, valores, previsões... Dados oficiais.







































































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