Como a longevidade e as emoções das redes sociais moldam nossas viagens
- Tela Tomazeli | Editora

- 8 de nov.
- 5 min de leitura
MEETING FESTURIS - Neste sábado ouvi atentamente duas palestras no Meeting Festuris, e aqui segue minha percepção sobre a abordagem de Luiz Felipe Pondé, filósofo, escritor, ensaísta, professor universitário e palestrante brasileiro. A palestra norteou o tema: 'Como imaginar o futuro em guru? '
Falando antes da palestra com ele, compreendi depois, durante a palestra, quando ele diz: não é sobre ser a favor ou contra, é sobre 'ser o que é', a realidade.
Pondé analisa que duas poderosas correntes estão em curso, e ambas têm um impacto direto em como viajamos e, especialmente, no futuro do turismo de excelência.
A Revolução Prateada significa mais anos e mais viagens. O Brasil, assim como o mundo mais desenvolvido, está vivendo uma verdadeira revolução: as pessoas estão vivendo mais e tendo menos filhos. Não se trata apenas de uma estatística, mas de uma mudança profunda no nosso jeito de viver e gastar dinheiro. Se antes a renda era direcionada para escolas e despesas com crianças, hoje, com a redução da natalidade e o aumento da escolaridade feminina, muitas pessoas buscam algo diferente: sentido de vida através de experiências.
O raciocínio dele com relação a Revolução Prateada faz todo o sentido, se formos nos ater a realidade, coisa que ultimamente evitamos, parece que o movimento vai somente até a semana que vem.
Para o mercado de turismo, isso significa que a população com mais de 70 anos não é apenas um nicho, mas o futuro. E ela está procurando viagens com propósito. O foco se desloca da pressa para a pausa. Itinerários mais lentos, que valorizam a contemplação, o bem-estar e a saúde, ganham espaço. Não é só sobre rampas. É sobre comunicar de forma clara, ter letras grandes em guias e menus, e garantir uma curadoria alimentar atenta às necessidades de uma vida mais longa. Com tempo e recursos, a busca é por roteiros que ofereçam conhecimento e cultura, transformando o gasto em investimento pessoal.
O desafio está em reconhecer a diversidade desse público - nem todos os idosos têm o mesmo poder aquisitivo - e garantir que a infraestrutura e o atendimento estejam livres de preconceitos, oferecendo o respeito e o serviço de excelência que este novo consumidor de alto valor merece.
Se a longevidade molda o produto, as mídias digitais moldam a comunicação e o ambiente social. Graças aos celulares e às redes, cada pessoa é, ao mesmo tempo, emissora e receptora de conteúdo. A informação circula em escala e velocidade inéditas, gerando ondas que, muitas vezes, corroem a credibilidade de líderes e instituições. Mais do que a racionalidade, são as paixões que movem o comportamento nas redes e na política, especialmente aquelas que chamamos de "sombrias", e aqui ele cita três: Ressentimento: A sensação de injustiça ou privilégio alheio que impulsiona o consumo ou o boicote. Humilhação: O sentimento de desvalorização, fácil de ser instrumentalizado por narrativas polarizadas. Raiva e Medo: Emoções poderosas que mobilizam e são reforçadas pela sobrecarga de informação e pelos ciclos de notícias virais.
Pondé avalia o futuro próximo (5 a 10 anos) e aponta para uma provável intensificação dessas dinâmicas e, consequentemente, para uma pressão regulatória sobre as plataformas. O Estado pode tentar controlar o que é difundido, buscando "combater emoções negativas". Para as empresas, isso é um sinal de alerta: depender excessivamente de uma única rede social para vender ou construir reputação é um risco. A estratégia de comunicação deve ser inteligente, clara e multicanal, reconhecendo que a batalha pela atenção e pela confiança é constante.
Ele segue sua reflexão dizendo que para prosperar neste cenário duplo, a lição central é: não confie em adivinhos ou modismos. Olhe para as causas materiais que geram as tendências (como a educação feminina e o alto custo de vida que geram a baixa natalidade). Se as causas persistirem, as tendências persistem.
Para ele em um mundo onde a vida se alonga e as emoções se radicalizam nas telas, a oferta de experiências autênticas, tranquilas e de valor humano torna-se o verdadeiro luxo. Priorizar o longevo desenhando produtos com acessibilidade e ritmo que atendam a quem busca sentido na vida através da viagem. Usar a linguagem clara, investir em formatos legíveis e reduzir a dependência de plataformas, preparando-se para um ambiente regulatório mais rígido.
O encontro centrou-se na análise de tendências sociais e históricas que influenciam diretamente o turismo (especialmente o segmento de luxo) e as decisões de viagem, com ênfase em demografia, comportamento do consumidor, e o impacto estrutural das mídias sociais na política e nos mercados.
Pinceladas do Pondé - Comportamento
Redução sustentada da fertilidade em regiões mais afluentes e urbanizadas.
Atomização das famílias e diminuição drástica do número de jovens e crianças.
Crescimento de população longeva e aumento de casas/lares para idosos, dada a menor disponibilidade de cuidados familiares.
Aumento da escolaridade e da participação feminina no mercado de trabalho.
Custos elevados de ter filhos e maior aversão a vínculos “para a vida toda”.
Substituição de tempo e atenção (dispositivos, agendas cheias) reduzindo atividade sexual e planeamento familiar.
Procura por viagens como fonte de sentido de vida e uso de rendimento disponível em vez de despesas com filhos.
Necessidade de adequação de produtos e serviços a 70+.
Acessibilidade, legibilidade (tamanho de letra), clareza na comunicação e explicação do itinerário.
Curadoria de alimentação adequada e ritmos de agenda menos intensos.
Estrutura em logística, alimentação, mobilidade e desenho de programas.
Idosos no Brasil têm baixo poder de consumo (rendimento limitado; perda de seguros de saúde privados), reduzindo sua visibilidade como “clientes”.
Escolas com menos jovens competem por retenção de famílias, levando a “fidelização dos pais” e expectativas de facilitação na trajetória dos filhos.
Reconhecimento de que decisões “individuais” são moldadas por fatores históricos e materiais amplos.
Observar fenómenos atuais, identificar causas materiais, projetar tendências mantendo constantes essas causas.
Previsões baseadas em regularidades históricas e estatísticas, não em adivinhação.
Se as causas materiais da baixa fertilidade se mantêm, a tendência de menos jovens e mais idosos persiste nos próximos 5–10 anos.
Mudanças na produção/distribuição de informação geram alterações sociais e políticas significativas.
Prensa de Gutenberg + tradução bíblica → guerras religiosas → consolidação do Estado laico e da liberdade privada. Rádio no séc. XX → amplificação de líderes carismáticos ...
Todo receptor é também emissor; difusão massiva de conteúdos altera relações de poder.
Estados pressionam para regular/ controlar plataformas devido à incerteza e ao potencial de desintermediação.
Provável transformação (ainda indeterminada) nos mecanismos de representação democrática ao longo da próxima década.
Desenvolver itinerários inclusivos para 70+, com foco em acessibilidade, ritmo, informação e alimentação.
Curadoria de experiências com “sentido” para viajantes sem filhos e de alto rendimento.
Linguagem clara, multiformato e legível; canais digitais otimizados para públicos seniores.
Educação do trade para reduzir vieses que descartam idosos como “não clientes”.

"Para encerrar, eu espero, sinceramente, que se ele ler este conteúdo, fique satisfeito com o resultado, pois fui ousada em colocar sua palestra em palavras."











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