Natal Luz de Gramado: o espetáculo que mudou a curva da Serra

Por Família Peccin

03 de novembro de 2025

Quando o maestro Eleazar de Carvalho regeu um coral de 700 vozes às margens do Lago Joaquina Rita Bier, em dezembro de 1986, poucos imaginavam que aquela apresentação nasceria para reescrever a economia da Serra Gaúcha. A ideia era simples, mas visionária: criar um evento natalino que preenchesse o vazio do verão em uma cidade até então dependente da temporada de inverno.

À frente dessa virada estavam Luciano Peccin, empresário gramadense, e depois, seu filho Felipe Peccin, que traria da Disney a cultura da experiência que transformaria o evento num espetáculo mundial.

O Natal Luz nasceu de mutirões, de moradores decorando suas fachadas com lâmpadas reaproveitadas, de costureiras e marceneiros doando trabalho para encher a cidade de luz. Ao longo dos anos, foi se transformando em uma produção profissionalizada, inspirando-se em desfiles temáticos e narrativas cênicas. O carnaval carioca também serviu de laboratório, com Joãosinho Trinta assinando a consultoria criativa para as paradas natalinas.

O resultado foi uma explosão de público e de impacto econômico. Nos anos 2000, Gramado recebia cerca de 500 mil visitantes/ano. Em 2015, o Natal Luz já atraía 2 milhões de pessoas em menos de três meses.

O evento rompeu a sazonalidade e consolidou um destino que hoje ultrapassa 8 milhões de turistas/ano. Hotéis, restaurantes, comércio e artesanato deixaram de fechar as portas no verão: Gramado tornou-se um caso de desenvolvimento regional impulsionado pela cultura e pela hospitalidade.

Durante mais de duas décadas, a família Peccin liderou, coordenou e viabilizou o Natal Luz como projeto coletivo em um modelo de gestão comunitária-privada que combinava voluntariado, captação privada e patrocínios via LIC e Lei Rouanet. O formato permitiu agilidade criativa, continuidade curatorial e uma narrativa consistente de marca destino. Os próprios Peccin investiram recursos e reputação para dar forma a um evento que se tornaria o “case Gramado”, conceito estudado em MBAs e relatórios de políticas de turismo.

No período mais recente, o Natal Luz passou a ser administrado pela Gramadotur, autarquia municipal. O novo modelo deveria trazer ganhos de compliance e transparência, mas na prática, o que se nota é a perda de velocidade e unidade criativa. A burocracia e a rotatividade política reduzem a capacidade de inovação e a cidade sente a pressão da concorrência.

Por exemplo, Curitiba reivindica o título de “maior Natal do Brasil”, com um modelo 100% gratuito e descentralizado que somou 2,3 milhões de espectadores em 2024 e impacto econômico de quase R$ 400 milhões. Apesar de Gramado manter grande público, enfrenta o desafio de preservar a diferenciação premium de seus espetáculos pagos e reconectar-se ao espírito comunitário que deu origem ao evento.

A recente sentença proferida depois de 14 anos de escrutínio jurídico não apaga a trajetória que Luciano, Marlene e Felipe Peccin construíram, nem altera o reconhecimento público sobre seu papel no Natal Luz de Gramado. A decisão que estabeleceu uma condenação mínima, restrita a uma questão formal e administrativa, ficou limitada à mera restituição de alguns valores menores de viagens. Confirmou ainda a improcedência do processo contra a maioria das empresas e empresários e reconheceu o descabimento de quase toda a ação, afastando mais de 95% dos pedidos que haviam sido formulados e tão alardeados pelo Ministério Público.

O legado dos Peccin permanece intacto: foi a sua visão, coragem e capacidade de mobilizar uma comunidade inteira que acenderam as luzes que mudaram a história econômica e cultural da Serra Gaúcha e esse brilho seguirá iluminando o nome de Gramado muito além de qualquer discussão judicial que ainda permaneça por mais algum tempo.

*Este conteúdo, na íntegra, é um manifesto da Família Peccin.

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