A primeira vantagem de ficar velho a não ter morrido novo. A segunda é ter visto fases porque passou o mundo, ou o lugar onde vive, e que o jovem nunca conhecerá. Aliás, quem nasceu no século XXI não tem ideia do tipo de planeta ou cidade que vieram antes deles. Isso lhes confere o atributo da inocência e do perdão aos pecados que os antigos já cometeram em formatos diferentes.
Uma das mais notáveis sacadas de Deus foi ter inventado que os velhos ficam de cabelos brancos. Eles foram criados como forma de testemunhar que tem gente que não pode mais se realizar pela força – por isso, eles são a parte do corpo mais próxima do cérebro. Então, o velho está destinado a se impor pela razão.
Para muitas pessoas, a velhice é a parte mais agradável da vida. A ela foi concedido o dom esquecimento adocicado pelo perdão, sobretudo pelos erros individuais cometidos por cada um, que agiam errado pensando que estavam certos. Com isso sepultando rancores e limpando o coração da venenosa busca por culpados, em vez dos motivos que determinaram um ou outro procedimento.
Vai contra a dignidade da confraria dos velhos, procurar consolo na pueril afirmação de que “quando novo até eu era bonito (a)”. Quem fala assim não descobriu ainda, que a verdadeira beleza é invisível. E, caso velho ou feio fossem sinônimos, a maioria das mulheres já teria abandonado seus maridos – e é claro que um marido jamais faria isto.
Na ordem essencial cabível a todos os seres vivos está escrito, em letras definitivas, que a velhice foi planejada para ser um prêmio e não um castigo. É sinal de que o velho teve o privilégio de ser dono de uma parte do Universo, por tempo não concedido a todos, e ter recebido abertas as portas de muitas oportunidades.
Então, esconder-se atrás da consoladora alcunha de “idoso”, e viver a caça de privilégios, é falta de gratidão e desprezo por um dos mais ricos momentos da inspiração divina.
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