Trem Porto Alegre / Gramado: Agência Visão traz a primeira reunião dos empreendedores com empresários, para a apresentação do projeto
- Tela Tomazeli | Editora
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MOBILIDADE - Matéria Exclusiva/Gramado Magazine
A reunião da Agência Visão, no Condomínio Laken, no último dia (27), marcou a apresentação do projeto de transporte ferroviário de passageiros e cargas entre Porto Alegre e Gramado, RS (Região das Hortênsias), um modal visto como a "volta daquilo que não tinha que ter saído". O projeto é liderado pela sociedade de propósito específico SulTrens, com suporte técnico da STE (Serviços Técnicos de Engenharia) e assessoria financeira da BF Capital.
O empreendimento está sendo desenvolvido com base em um novo marco regulatório federal e estadual que permite a autorização ferroviária por iniciativa privada, sem necessidade de aporte público.
Engajamento da comunidade
O presidente da Agência Visão, Jorge Maldaner, destacou que um dos objetivos da entidade é buscar mobilidade e logística para a região. Representantes políticos e empresariais reforçaram a importância do apoio da comunidade, afirmando que o setor público se empenha mais quando há respaldo do setor empresarial e da agência de desenvolvimento. O projeto é considerado de muita relevância e fundamental para o desenvolvimento de Gramado e da região.
Estrutura e Viabilidade do Projeto
Marco legal: O projeto se baseia na Lei Federal 14.273, de 27/12/2021, que cria a figura da autorização ferroviária para que a iniciativa privada estude, proponha e receba uma concessão de 99 anos (renovável por iguais períodos). O Rio Grande do Sul criou seu próprio marco institucional em novembro de 2023, seguindo a lei federal.
Investimento e prazo: O custo total estimado (a preços de março de 2025) é de R$ 4 a 5 bilhões, com a possibilidade de arrecadar R$ 700 milhões em receitas imobiliárias, resultando em um investimento líquido de R$ 3,8 bilhões a ser levantado. A previsão é iniciar a operação em agosto de 2032, com o início efetivo das obras no final de 2028.
Captação de recursos: A BF Capital está em busca de parceiros investidores. O BNDES demonstrou grande interesse, podendo financiar até 80% do projeto, com prazos de 30 a 34 anos.
Operação e Traçado
Traçado e distância: O traçado estudado é de 83,5 quilômetros entre o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, até Gramado. Cerca de 50 km seriam em superfície, e os 12 km da subida da serra representam o maior desafio técnico.
Tempo de viagem: A meta de marketing e psicológica é de uma hora de viagem entre Salgado Filho e a Serra.
Frequência e capacidade: A demanda inicial exigiria trens a cada meia hora, com capacidade para 450 passageiros, e a cada 20 minutos nos horários de pico. A via será dupla, e a sinalização está sendo projetada para suportar trens a cada 10 minutos.
Tarifa e receita: A tarifa inicial foi estimada em R$ 270 (com possibilidade de chegar a R$ 350). A receita do sistema virá de:
Tarifa (fundamentalmente).
Receitas acessórias (alimentos, bebidas, estacionamento, etc.).
Receitas imobiliárias de um ou dois condomínios residenciais que serão implantados com estação dedicada.
Foco no usuário: Inicialmente, os estudos se concentraram 100% na demanda turística. Contudo, o projeto visa atender também o porto-alegrense, permitindo, por exemplo, ir jantar em Gramado e voltar no mesmo dia ou passar o dia. O trem será direto Porto Alegre / Gramado / Porto Alegre
Desafios e impactos
Ambiental e desapropriações: A questão ambiental é citada como o principal gargalo. A criação do marco institucional estadual exigiu um estudo técnico público ambiental adicional, realizado em 28 dias. As desapropriações serão tratadas pela Sul3, que fará a negociação e o pagamento conforme decreto de utilidade pública, buscando minimizar a faixa de domínio (mínimo de 15 metros).
Concorrência aérea: Os desenvolvedores estão avaliando o impacto do possível aeroporto Vila Oliva, em Caxias do Sul. Eles notam que o trem é mais vantajoso para a comunidade e que o aeroporto em Caxias pode prejudicar o projeto, além de ser propenso a fechamentos (em média, 30% dos dias).
Carga: Há o interesse em estudar um trem de carga na mesma ferrovia, utilizando o modal durante a madrugada. A STE, um dos principais parceiros técnicos do projeto, já atua em projetos de iluminação pública por meio de Parcerias Público-Privadas (PPP) em Porto Alegre, Canoas, Santa Maria e Foz do Iguaçu.
Marco Institucional da Autorização Ferroviária
O projeto é baseado no novo Marco Institucional da Autorização Ferroviária, que permite à iniciativa privada desenvolver projetos e obter uma concessão de 99 anos, renovável, sem aporte público.
Aspecto | Detalhe | Dados Relevantes | Fontes |
Investimento | Custo total estimado. | R$ 4 a 5 bilhões (preços de março/25). | Apresentação Visão |
Financiamento | O BNDES pode financiar a maior parte. | Até 80% do projeto, com prazo de 30 a 34 anos. | Apresentação Visão |
Prazo | Início das obras e operação. | Obras no final de 2028, início da operação em agosto de 2032. | Apresentação Visão |
Traçado | Liga Porto Alegre (Aeroporto Salgado Filho) a Gramado. | 83,5 km, com meta de tempo de viagem de 1 hora. | Apresentação Visão |
Demanda Estimada | Foco inicial em turistas. | 25% do total de viajantes migrariam para o trem. Em casos internacionais semelhantes, a migração chega a 70%. | Apresentação Visão |
Tarifa Estimada | Preço competitivo para o serviço. | Inicialmente estimado entre R$ 270 e R$ 350. | Apresentação Visão |
Inovação e impacto no Turismo e na comunidade
O projeto visa transformar a experiência de chegada à Serra:
Para o Turista: A atração começa no Salgado Filho. Viajar de trem (em cerca de 1 hora ) elimina o estresse de aluguel de carro, trânsito congestionado e estradas. O trem operará até meia-noite e meia para atender aos voos noturnos.
Para o morador: O trem irá impulsionar a vida social e econômica, permitindo ao porto-alegrense vir jantar ou passar o dia em Gramado, e facilitando o deslocamento para questões médicas ou de trabalho na capital.
Modelo de negócio inovador: A viabilidade financeira do trem se baseia na alta demanda turística (diferente da maioria das ferrovias de passageiros no mundo, que operam com prejuízo e precisam de subsídio governamental ) e inclui receitas imobiliárias através da implantação de um ou dois condomínios com estação dedicada em Gramado.
Principais desafios
Os desenvolvedores reconhecem que o caminho não é fácil e estão se preparando para enfrentar diversos problemas:
Ambiental e topografia: O maior gargalo é a questão ambiental , especialmente na subida da serra. O projeto atual prevê 10 quilômetros de túnel, que os engenheiros querem reduzir para tornar a viagem mais cênica.
Tecnologia: A tecnologia precisa ser capaz de subir e descer em segurança a rampa da serra, uma característica que poucas fabricantes de trem possuem.
Concorrência aérea: A possível implantação de um aeroporto em Caxias do Sul é vista como um problema, já que mataria o aeroporto Salgado Filho (Fraport) e prejudicaria o projeto ferroviário. Além disso, aeroportos na região de Caxias fecham em média 30% dos dias.
Integração de carga: O grupo já está estudando a possibilidade de aproveitar a ferrovia para transporte de carga durante a madrugada, o que eliminaria parte do transporte rodoviário.
O sucesso do projeto depende do engajamento de toda a comunidade e empresariado, pois existe a convicção absoluta de que este é um produto importante para o Rio Grande do Sul.
Fabricantes de trens em discussão para o Projeto Porto Alegre/Gramado
O projeto do trem para Gramado está em negociação com quatro fabricantes internacionais, após conversas iniciais com nove empresas. A decisão final sobre o fornecedor será técnica e financeira, dependendo também do tipo de investidor que entrar no projeto.
O critério principal é a capacidade de vencer rampas íngremes e a facilidade de fornecer trens mesmo com uma encomenda reduzida (estimada entre 15 e 20 unidades no primeiro momento).
Abaixo estão as empresas mencionadas e informações relevantes no contexto do Brasil e do projeto:
Fabricante | Origem | Destaque do Projeto/Brasil | Observações do Projeto | Fontes |
Stadler | Suíça | Empresa criada há 120 anos com o objetivo de construir trens para os Alpes. | A tecnologia é vista como ideal para as rampas da Serra Gaúcha. | Apresentação Visão |
Marco Polo | Brasil (Caxias do Sul) | Possui vantagens por estar sediada em Caxias do Sul, próxima à região do projeto77. | O projeto conta com um trem de seu portfólio. | Apresentação Visão |
Alstom | França | Possui um trem "maravilhoso" que opera uma viagem turística de 1.500 km no México (Cancún). | Demonstração da capacidade de atender a projetos com foco turístico. | Apresentação Visão |
CRRC | China | Fabricante de trens chinesa. | Está entre as quatro empresas que demonstraram interesse. | Apresentação Visão |
Critérios de escolha para o Trem
A escolha do trem será baseada nos seguintes aspectos:
Capacidade de Vencer Rampas Íngremes: Fundamental devido ao desafio da subida da Serra.
Velocidade Máxima: Mínimo de 120 km/h.
Preço Final no Canteiro de Obra: O custo é avaliado no local de implantação, e não apenas na porta da fábrica.
Conforto e Facilidade de Assistência Técnica.
Bitola: Será utilizada a bitola de 1,435 metros (diferente da Trensurb, que é de 1,60 metros) para que possa ser fornecida por qualquer fabricante global, já que a encomenda inicial é reduzida (15 a 20 trens).
O próximo passo é a definição do traçado, o que é crucial, pois tudo, incluindo a escolha final do trem e os estudos de engenharia, deriva dessa definição.
Critérios técnicos de construção e projeção financeira do Projeto Ferroviário
O projeto do trem entre Porto Alegre e a Serra Gaúcha está sendo elaborado com base em critérios técnicos rigorosos e uma projeção financeira conservadora para garantir sua viabilidade, que é uma característica rara em ferrovias de passageiros no mundo.
Critérios técnicos de Construção do Traçado
O estudo do traçado é a fase mais crucial, pois todas as definições subsequentes, incluindo a escolha do trem, dependem dele.
Extensão total e tempo de viagem
O traçado estudado tem 83,5 quilômetros.
A meta é alcançar um tempo de viagem de uma hora entre o Aeroporto Salgado Filho e a região de Gramado, um tempo considerado psicologicamente importante.
Perfil topográfico e rampas
Cerca de 50 quilômetros do traçado são em superfície, mas os 12 quilômetros finais de subida representam um grande desafio técnico.
A tecnologia dos trens precisa ser capaz de vencer rampas íngremes e garantir a descida em segurança. Uma empresa alemã de freios, Knorr, já foi consultada para garantir a segurança na descida.
Obras especiais
O projeto atual inclui 10 quilômetros de túnel, o que os engenheiros pretendem reduzir.
A redução dos túneis visa tornar a viagem mais cênica e visualmente bonita, transformando-a em uma atração.
Via permanente e sinalização
Bitola: Será utilizada a bitola de 1,435 metros (Standard Gauge), diferente da Trensurb (1,60 metros). Essa escolha garante que a maioria dos fabricantes globais possa fornecer os trens, já que o pedido inicial é pequeno.
Sinalização: O sistema será sofisticado, projetado para suportar trens circulando a cada 10 minutos, embora a demanda inicial exija trens a cada 20 ou 30 minutos.
Velocidade: A velocidade máxima dos trens deve ser de, no mínimo, 120 km/h.
Projeção financeira do Projeto
A projeção financeira foi feita de forma extremamente conservadora, garantindo que o projeto seja viável com zero aporte público, conforme exigido pela lei de autorização ferroviária.
Custo Total Estimado:
O custo total de implantação, a preços de março deste ano, é estimado entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões.
Fontes de Receita: O pagamento do investimento se dará por meio de três fontes principais:
Receita Tarifária: É a fonte fundamental de receita. A tarifa inicial foi estimada em R$ 270, podendo chegar a R$ 350.
Receitas Acessórias: Incluem alimentos, bebidas, estacionamento e catering.
Receitas Imobiliárias: Provenientes de um ou dois condomínios residenciais com estação dedicada, que a empresa pretende implantar na região de chegada. Estima-se arrecadar R$ 700 milhões com esse braço imobiliário.
Investimento Líquido a Ser Levantado:
Descontando a receita imobiliária, o valor líquido a ser levantado seria de R$ 3,8 bilhões.
Busca por Financiamento:
A BF Capital está focada na busca por parceiros investidores.
O BNDES demonstrou interesse, podendo financiar até 80% do projeto, com um prazo que pode chegar a 30 ou 34 anos.
A Importância dos Marcos Institucionais para a viabilidade do Projeto
Os Marcos Institucionais, que incluem a legislação federal e a estadual, são fundamentais para a viabilidade do projeto do trem Porto Alegre/Gramado, pois eles criaram a estrutura legal para que a iniciativa privada pudesse propor, financiar e operar um serviço de transporte ferroviário de passageiros sem depender de recursos públicos.
Lei Federal: A Criação da Autorização Ferroviária
O ponto de partida do modelo de negócio foi a Lei Federal 14.273, instituída em 27 de dezembro de 2021.
A Figura Legal: Esta lei criou a figura da Autorização Ferroviária.
O Papel do Privado: Permite que empresas privadas estudem e proponham projetos ferroviários de carga e passageiros.
A Concessão: O governo analisa a prioridade e a compatibilidade do projeto (e se não há conflito com outros projetos), e concede uma autorização por 99 anos, renovável por períodos iguais. Na prática, é considerada uma concessão eterna.
Zero Aporte Público: O mais crucial é que a lei estabelece que a autorização só é constituída se houver zero de aporte público. Isso é um diferencial, pois, em quase todo o mundo, o transporte ferroviário de passageiros opera com prejuízo e precisa de apoio governamental (seja para o custo de capital ou para o operacional). O projeto da Serra Gaúcha conseguiu contornar essa necessidade.
Lei Estadual: A adequação e a inteligência do Marco
Após a criação da lei federal, a equipe do projeto buscou a criação de um marco institucional próprio no Rio Grande do Sul.
Necessidade: Foi solicitada uma emenda constitucional para criar o marco institucional estadual, que foi aprovada em novembro de 2023.
A Estratégia Legal: A lei estadual é considerada "das mais inteligentes" porque, em vez de criar regras próprias, ela simplesmente diz: "Siga a lei federal".
O Benefício: Essa abordagem elimina o eventual conflito entre a legislação estadual e a federal, simplificando a interpretação e a aplicação da lei.
A Luta: A obtenção da autorização dentro do governo estadual foi uma luta, pois era a primeira vez que uma autorização ferroviária de passageiros era concedida no Brasil, o que gerou incerteza e dificuldades na Procuradoria e entre os funcionários públicos.
Presenças de Destaque na "Missão SULTRENS a Gramado"
A reunião de apresentação do projeto do trem para a Serra Gaúcha, denominada "Missão SULTRENS a Gramado", contou com a participação de membros das equipes de engenharia, finanças e jurídica envolvidas na estruturação do empreendimento.
O encontro contou com a presença dos principais nomes da liderança técnica e financeira:
Pela RG2E, empresa ligada à área de ferrovias, estiveram presentes Renato Ely e sua senhora. Renato Ely é referenciado como o maior especialista em ferrovias do Brasil.
A BF Capital, responsável pela assessoria financeira, foi representada por Renato Sucupira e sua senhora. Renato Sucupira é uma figura chave na busca por parceiros investidores.
A equipe de engenharia da STE (Serviços Técnicos de Engenharia), que lida com os desafios técnicos do traçado, teve a presença de Athos Cordeiro, Daniella Cordeiro e Matheus Cordeiro. O suporte jurídico foi garantido pelos representantes do escritório Piva Advogados: Luiz Carlos Piva e Rafael Piva.
De Gramado, além dos empresários associados da Visão, estiveram o secretário de Turismo de Gramado, Ricardo Bertolucci Reginato, o secretários de Planejamento de Gramado, Rafael Bazzan e o vice-prefeito, Luia Barbacovi.
Fotos: Tela Tomazeli















































































































