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Os caminhos do rio 1

Foto do escritor: Tela Tomazeli | EditoraTela Tomazeli | Editora

Prezado Leitor e Leitora, esta é uma matéria com profunda pesquisa. Frente as questões geradas por redes sociais, noticiários, buscamos contemplar uma linha de informação para que você, no mínimo, entenda as várias realidades do que vivemos e estamos por enfrenta do Rio Grande do Sul . A matéria contempla os meus questionamento,  e está aberta a contribuições, desde que com fonte - Tela Tomazeli Com previsão de continuidade de precipitações acima da média, conheça as medidas e soluções que o Vale do Taquari pode fazer para evitar novas cheias e enchentes Uma tragédia que ficará para sempre marcada na história do Rio Grande do Sul e, principalmente, dos moradores do Vale do Taquari. A água, vista como um dos bens mais preciosos da Terra, em sua magnitude e força, após intensas chuvas que atingiram o Estado em 72 horas, elevou o nível dos rios, que não comportou e ocasionou enchentes. Foram diversas as cidades atingidas. De forma mais intensa, Encantado, Roca Sales, Muçum e Lajeado ficaram, praticamente, debaixo de água. Centenas de famílias perderam tudo – e, infelizmente, muitas precisaram se despedir de familiares, amigos e conhecidos. São 47 pessoas que não resistiram às enxurradas. Sob efeito do El Niño, um sistema que influencia o tempo em relação às temperaturas – mais altas – e a períodos chuvosos, agora, o cenário é de análise e planejamento. Como prevenir novos episódios? As cidades devem ser reorganizadas? Como ficará o tempo para as próximas semanas e meses? Quais as estratégias devem ser adotadas em curto, médio e longo prazo? Nesta reportagem, apresentamos possíveis soluções e ideias a partir de conversas com especialistas. Também, fazemos um resumo do que esperar do clina. O clima e a influência do El Niño

O El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico, que causa aumento na temperatura do oceano pacífico. Como consequências, temporais e períodos de maior precipitação se tornam mais frequentes. A mudança também acarreta alterações na temperatura. O Estado está sob efeito desde o outono deste ano, mas foi no inverno que se tornou mais evidente. Em junho, a passagem de um ciclone extratropical trouxe diversos problemas, ocasionando já mortes e desastres em escala menor. Na Serra Gaúcha, como na Região das Hortênsias, houve desmoronamentos e deslizamentos de terra. A BR-116, em Nova Petrópolis, até hoje está em obras e operando no sistema Siga e Pare, através de semáforo. Em julho, novamente chuvas fortes atingiram o RS. Mas as que assustaram e trouxeram o sinal de perigo e alerta foram as do início de setembro, quando foram registrados acumulados de chuva de 200 mm a 400 mm no Norte gaúcho. Conforme a MetSul Meteorologia, estação meteorológica particular chegou a anotar 390 mm na região de Passo Fundo. Ainda conforme a empresa, várias outras estações indicaram mais de 300 mm entre o Alto Jacuí, o Planalto Médio e os Campos de Cima da Serra. De acordo com o professor, engenheiro ambiental do Instituto de Saneamento Ambiental da UCS-ISAM e representante da universidade no Comitê Taquari-Antas, Tiago Panizzon, um somatório de fatores levou às cheias do rio. “A chuva ela é em sua maioria natural. Chuva é chuva, não tem como dizer que não foi natural, mas ela foi excepcional. Foi um somatório de fatores, relacionados com El Niño, com uma zona de baixa pressão forte, que puxou umidade do oceano, da Amazônia. Talvez mais importante, foi muito concentrada numa região e se torna problemática. Porque temos chuvas que são curtas e intensas, o que inunda as cidades, chove muito rápido em pouco tempo. E nesse caso foi chuva longa e intensa, essa combinação gerou volume de água grande, que causou transbordamento”, revela. “Ela é uma das maiores chuvas que já tivemos e pegou uma região problemática das cabeceiras. Um estudo aponta as mudanças climáticas e que o Sul tem tendência de aumento de chuvas. Esses eventos extremos talvez não sejam tão extremos, e há uma discussão de rever nossos modelos meteorológicos”, adianta o engenheiro ambiental. Nesta primavera, a MetSul alertou em seus canais que o fenômeno deve ganhar intensidade durante esta Primavera, o que preocupa governos em nível municipal e estadual. “A possibilidade de alcançar o nível de Super El Niño, embora menor, ainda não está descartada. Os efeitos do fenômeno serão mais sentidos a partir de agora no Sul do Brasil”, diz a meteorologista Estael Sias. (

https://metsul.com/aquecimento-do-pacifico-e-o-maior-desde-o-super-el-nino-de-2015/). O pico poderá ser atingido no último trimestre deste ano, pegando o início do verão. A bacia do Rio Taquari-Antas A Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, localizada na Região Hidrográfica da Bacia do Guaíba, possui área de 26.430 km² e população estimada de 1,3 milhão de pessoas, abrangendo uma área em torno de 100 municípios e inclui locais distantes de Lajeado, como Cambará do Sul, Serafina Correa e Soledade. A Região Hidrográfica do Guaíba é dividida em nove bacias hidrográficas, que drenam direta ou indiretamente para o Lago Guaíba e este para a Laguna dos Patos, sendo elas: Alto Jacuí, Baixo Jacuí Caí, Gravataí, Lago Guaíba, Pardo, Sinos, Taquari‐Antas e Vacacaí‐Vacacaí‐Mirim. Conforme relatório técnico do governo do Estado, O rio Taquari‐Antas nasce no extremo leste da bacia com a denominação de rio das Antas até a foz do rio Carreiro, quando passa a denominar‐se Taquari, desembocando no rio Jacuí. Tem uma extensão de 546 km desde as nascentes até a foz, sendo que por 359 km é denominado rio das Antas e por 187 km rio Taquari. O rio Taquari‐Antas é o principal afluente do rio Jacuí, o maior formador do Lago Guaíba. “O Taquari faz parte de um conjunto de bacias que convergem na Região Metropolitana, então o que afeta aqui, afeta lá embaixo. Mas o efeito da vazão não é tão expressivo. Porque quando tu está nas cabeceiras, a água chega muito rápido e baixa muito rápido. Mas quanto mais para a frente, mais distribuídas as águas chegam, então se aqui o rio subiu 3 a 4 vezes o nível, lá vai impactar pouco”, explica o representante da UCS.

A cheia e as enchentes Nove especialistas do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) emitiram um documento sobre a cheia que atingiu a localidade. O relato apresenta os fatos em ordem cronológica do desastre. A Gramado Magazine relata a seguir partes do que foi apresentado: “Às 17 horas do dia 4, cerca de 24 horas antes da tragédia em Lajeado, a ponte de ferro sobre o rio das Antas, localizada entre Farroupilha e Nova Roma do Sul, foi destruída pela cheia. Ao longo do rio, a distância entre a ponte de ferro e Lajeado é de 170 km. No mesmo momento em que caía a ponte de ferro sobre o rio das Antas, o monitoramento de chuva do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no município de Serafina Correa, situado entre os rios Carreiro e Guaporé, dois dos mais importantes tributários do rio Taquari‐Antas, indicava precipitação acumulada de 280 mm desde o início da noite do dia 1º de setembro. Esse valor corresponde a 97% do total de chuva que foi registrado no local neste evento de cheia. Em outros locais da bacia a maior parte da chuva que resultou na inundação também já havia ocorrido no final da tarde do dia 4. Pouco tempo depois, a Companhia Energética Rio das Antas registrava a vazão máxima de 9783 metros cúbicos por segundo na Usina Hidrelétrica Castro Alves, localizada 180 km a montante de Lajeado, deixando claro que a cheia do rio Taquari‐Antas seria extraordinária.” Assim, eles colocam que, a magnitude do que ocorreu poderia ter sido evitado, pois o cenário já se mostrava diferente cerca de um dia antes. “A água da chuva que caiu em Serafina Correa passou pelo rio Taquari em Lajeado. A água que derrubou a ponte de ferro em Nova Roma do Sul também passou pelo rio Taquari em Lajeado, assim como a água que deixou em pânico os responsáveis pela Usina Castro Alves. Isso demonstra que era possível saber, com quase 24 horas de antecedência, que a cheia do rio Taquari em Lajeado seria de grande magnitude.”

Já aconteceram e voltarão a ocorrer Cheias extremas como a que ocorreu em setembro já aconteceram no passado, como em 1941. “Pesquisas cientificas recentes baseadas em análises de séries históricas mostram que as vazões de cheias têm aumentado nos últimos anos no sul do Brasil. Além disso, estudos conduzidos por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS considerando projeções de mudanças climáticas apontam para aumento na magnitude e na frequência de cheias no estado do Rio Grande do Sul”, coloca a nota do IPH. Salienta‐se que a simples disponibilidade de dados de previsão meteorológica não garante a efetividade na minimização dos danos e prejuízos frente a esses eventos. A previsão de ocorrência de eventos extremos, como chuvas intensas, por modelos de previsão do tempo, deve necessariamente ser complementada com medições hidrometeorológicas e hidrológicas automatizadas com disponibilização de dados em tempo real, para monitoramento da bacia hidrográfica e para utilização em modelos de previsão de vazão e de nível dos rios, incluindo identificação das áreas de inundação. Por essa perspectiva, informações detalhadas de chuva, nível dos rios e da topografia local permite aos órgãos responsáveis, como a Defesa Civil ou a Sala de Situação, emitir alertas assertivos e detalhados sobre os locais a serem impactados por esses eventos extremos. O rio mudou? Para Tiago Panizzon, o rio mudou em partes. “Ele não fez um novo caminho. O que acontece, e vemos em imagens de satélite, é que ela carregou muito sedimento. O que se discute como medida é o próprio desassoreamento dos rios, tirar o sedimento que se acumula. Agora pós-chuva, como foi intensa e com velocidade, causou muita erosão, então todo esse material, solo, vai se apossando em outros locais. Então em locais mais baixos, quando chega em Lajeado, Mussum, inclusive quando chega no Rio dos Sinos e Lagoa dos Patos, tem que se olhar em relação aos sedimentos” argumenta o professor da UCS. Para o engenheiro ambiental, é preciso traçar o perfil dos rios a cada evento de chuva extrema, a partir de um monitoramento. “É preciso ver como está ficando o formato, porque tende a sedimentar o material e com isso diminui a profundidade e acaba inundando com mais facilidade. Não quer dizer que isso tenha ocorrido nesse episódio”, lembra Tiago. As barragens A Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) emitiu uma nota para falar sobre a vazão das águas nas usinas e sobre o acionamento de sirenes. Confira: “Na última segunda-feira, 04 de setembro, o Rio das Antas atingiu a vazão mais alta desde a construção das usinas e uma das maiores vazões que se tem registro, tratando-se de um desastre natural de grandes proporções. Infelizmente, as barragens não conseguem reduzir altas afluências e mitigar os impactos no entorno do rio, pois as barragens da Ceran possuem vertedouro do tipo soleira livre e tem a característica “a fio d’água”, ou seja, não tem capacidade de armazenamento e nem de regular o fluxo do rio, pois todo o excedente de água passa por cima da barragem. Durante as cheias monitoramos em tempo real todas as estruturas, que em nenhum momento, apresentaram anomalias que indicassem risco de rompimento, o que não levou ao acionamento das sirenes de emergência”, diz. A Ceran ainda explicou sobre como funcionam os reservatórios d’água na região. Eles têm como característica principal acumular a água – sendo denominado como fio d’água. Assim, a operação basicamente consiste em funcionar com o fluxo normal do rio. A barragem é necessária para possibilitar a captação de água, que irá trazer funcionamento nas turbinas e então gerar energia elétrica. Os reservatórios não têm a possibilidade de amortecer uma cheia, pois todo o fluxo que chega, precisa passar por ela. A água que não passa pelas turbinas, passa pela crista da barragem. Conforme documento da Ceran, “Em situações de alta afluência a vazão de água que passa pela barragem é a mesma que passaria se ela não existisse”. A barragem de Castro Alves possui vertedouro do tipo “soleira livre”, sem comportas, e a água passa pela crista da barragem.

As usinas de Monte Claro e 14 de julho, por serem projetadas para uma maior vazão que Castro Alves, possuem duas comportas de vertedouro. Elas são abertas somente quando a água já está passando sobre a crista da barragem, para não sobrecarregar as estruturas, não alterando a vazão do rio. Sobre as comportas ficarem fechadas em caso de cheias, a Ceran frisa que a situação seria a mesma, pois não muda o fluxo do rio e “a não abertura dessas comportas colocaria em risco as estruturas, e consequentemente a segurança da população”. Sobre mudar o sistema existente hoje, o engenheiro ambiental Tiago é enfático. “Existem muros de contenção nos rios, mas são complexos de instalar. Tem as barragens, mas são pequenas e não seguram o fluxo. Se quer colocar uma, tem que ter uma discussão técnica e que gera um enorme impacto. Barragem tem um bônus que ajuda a armazenar, mas no Taquari-Antas não é uma solução, é entender melhor a bacia, fazer os mapeamentos e retirar as pessoas das zonas de risco. E a própria gestão de solo, de como vêm afetando. É mais planejamento”, afirma.

A organização das cidades Entre as possibilidades que vêm sendo colocadas em pauta, está a de reorganizar urbanisticamente as cidades que possuem alta influência dos rios nas estruturas sociais. Conforme a arquitetura e urbanista Francine Broilo, é preciso acrescentar as mudanças climáticas no crescimento dos municípios. “Acompanhamos a evolução urbana e o crescimento das cidades considerando fatores sociais, econômicos, culturais e ambientais. No momento, é preciso acrescentar mais um fator, o das mudanças climáticas. Mesmo já tendo enfrentado enchentes históricas, decorrentes de eventos naturais ordinários, as cidades pouco investiram em infraestrutura e planos de contenção de desastres. As mudanças climáticas, com seus eventos extraordinários, extremos e cada vez mais frequentes, sobrecarregam ainda mais a precária infraestrutura e deixam as populações ainda mais vulneráveis”, coloca a profissional. Os zoneamentos de inundações, por exemplo, auxiliariam a evitar tragédias, desde materiais a biológicas. “De forma geral, a legislação ambiental determina as áreas de preservação ao longo dos rios e no entorno das nascentes. Além disso, com base em dados e levantamentos históricos a respeito do volume das chuvas e das enchentes e cheias ocorridas em cada localidade específica, cria-se o zoneamento de risco de inundações. Este zoneamento é um mapa que irá apontar a extensão destas áreas de inundação e servirá como uma ferramenta importante de planejamento de uso e ocupação de solo, determinando que atividades podem ou não ser realizadas nestes locais, prevenindo tragédias e reduzindo os danos”, explica Francine.

Sedimentos pós chuva. Mapear e monitorar áreas de risco de desastre e áreas de preservação permanente para evitar construções no local, são uma forma de prevenção. “O cenário mais recorrente é da falta de dados, de mapeamentos e monitoramento das áreas de risco e de diagnósticos. Assim, sendo inviável desocupar estas áreas, resta investir na melhoria da infraestrutura urbana. Dimensionar e construir sistemas de drenagem urbana adequados. Fazer a manutenção dos sistemas de drenagens existentes. Melhorar a condição das construções prediais e viárias sempre que possível. Criar áreas verdes como parques, praças, canteiros, para aumentar a permeabilidade do solo. Evitar asfaltamento e impermeabilização total das vias utilizando pavimentações mais eficientes”, complementa a urbanista. Cada cidade também deverá ser analisada de forma individual, entendendo como se deu o crescimento, desenvolvimento e estruturação. É um olhar sobre o Plano Diretor e a forma como ele pode mudar e ajudar a evitar tragédias. “A principal ferramenta de planejamento que tem o poder de determinar instrumentos legais para ordenar o uso e a ocupação do solo e função social da cidade é o Plano Diretor Municipal. Isso está posto na legislação federal de política urbana, o Estatuto da Cidade”, frisa Francine. Ainda segundo a profissional, é preciso determinar áreas de preservação permanente e as áreas de risco a desastres que, no caso das cidades do Vale do Taquari são, além das margens do rio, as áreas de encosta, por exemplo. “E ter programas de monitoramento e controle constantes destas áreas. Exemplo: sensores que medem o volume de água do rio e emitem alertas caso este volume comece a ser uma ameaça. Alguns dos municípios atingidos possuem menos de 20 mil habitantes, o que não os obriga a ter Planos Diretores Municipais. Mas isto não significa que devem negligenciar ferramentas de planejamento urbano como todas estas que foram citadas”, finaliza. Para o engenheiro ambiental, é complicado falar sobre medidas para evitar as cheias, a maioria são de prevenção e realocação. “Temos hoje uma dificuldade de identificar quais são as áreas de riscos e quando se atuar. Muitas pessoas apontam que a Defesa Civil devia ter removido o pessoal. É fácil olhar para trás e dizer ‘ah, choveu 300 mm, subiu o nível onde subiu’, mas tudo são coisas que usualmente não aconteciam. Então a gente precisa primeiro melhorar nossos modelos climáticos, e para melhorar a parte dos modelos hidrometeorológicos precisa ter mais dados, ter mais sondas, balões, radares, mais elementos que permitam alimentar o modelo e entender melhor a chuva e aí tu consegues entender melhor a vazão”, explica o professor. “Hoje temos regiões que tem isso (monitoramento de bacia), como da Metroplan, que tem mapeamentos para indicar regiões que podem ser ocupadas, ou que podem ser ocupadas, mas não com casas. E hoje isso falta no Taquari-Antas. Depois que tiver esse mapeamento mais completo, tu conseguse trabalhar as ocupações. É ter bons dados, desocupar áreas de risco e ter um bom sistema de alerta, para que a Defesa Civil possa agir em cima. Mas essa é a última camada. O foco é fazer um zoneamento correto”, complementa Tiago Panizzon. Ele ainda conta que a realocação tem seus poréns. “Tem locais que estão junto ao rio e vão ter uma zona de expansão. O que pega o pessoal de surpresa é que as vezes numa região o rio ocupa aquela área a cada 10, 20, 30 anos. Vai ter locais que essa área não deveria ser ocupada por residências, mas que poderia ter plantações. Como são rios grandes, não tem muito o que fazer. Alguns lugares elevar o nível das casas pode ser suficiente, ter muros hidráulicos podem ajudar, mas que são soluções limitadas”, finaliza o professor. Os sinais de alerta e como funcionam A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do governo do Estado trouxe explicações de como funcionam os sistemas de alerta no Rio Grande do Sul. O SGB, Serviço Geológico do Brasil - antigamente chamado de CPRM-, realiza o levantamento de áreas vulneráveis para deslizamentos, conforme classificação geológica e capacidade de resistência a eventos climáticos severos. No Rio Grande do Sul, o SGB já realizou mapeamento de áreas de risco em 59 municípios. Com base nesses dados, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, monitora municípios em todas as regiões brasileiras. Os alertas emitidos pelo Cemaden são encaminhados para as Defesas Civis estaduais que, por sua vez, repassam para as municipais. “No dia quatro de setembro, o Cemaden emitiu 48 alertas entre 0h12 e 5h45, de risco moderado ou alto, para diferentes regiões do Rio Grande do Sul. Alertas que foram repassados aos órgãos competentes”, diz. A Sala de Situação presta serviço de monitoramento hidrometeorológico e atua de forma articulada com a Defesa Civil e a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura Estadual. A equipe da Sala de Situação trabalha em regime de plantão 24 horas por dia e diariamente, e é composta por meteorologistas e hidrólogos. São empregadas diversas tecnologias de monitoramento e análise das informações obtidas por meio de radares, satélites e estações meteorológicas, propiciando o adequado monitoramento das condições de chuvas, nível de rios e incidência de ventos. Quando são identificadas condições que ofereçam risco, são elaborados alertas. A informação de risco é enviada ao Centro de Operações da Defesa Civil (Codec), que emite o alerta às pessoas cadastradas no 40199. Os alertas também são publicados no site da Defesa Civil Estadual, bem como nas redes sociais institucionais e por meio das nove Coordenadorias Regionais de Proteção e Defesa Civil. Desde o dia 28 de agosto até às 12h44 do dia 8 de setembro, a Sala de Situação produziu e enviou 20 boletins, três avisos hidrometeorológicos e 19 alertas que geraram mensagem via SMS à população.

As medidas, a partir do olhar de especialistas O IPH traz três possíveis ideias do porquê as pessoas permaneceram em suas residências e, muitas, tiveram que se refugiar em telhados. São elas: o não conhecimento da sua casa estar localizada em local perigoso; não ter sido avisada sobre o perigo eminente; a não credibilidade pelos alertas, visto que eventualmente previsões de chuvas podem não se confirmar. O instituto apresenta diversas medidas que devem ser implementadas, de forma imediata e em médio prazo. Conheça: Ações urgentes e prioritárias (implementação imediata): - Ação técnica: Levantamento topográfico em alta resolução espacial com grande detalhamento da superfície e da elevação do terreno, com disponibilização em bases de dados públicas. - Ação técnica: Levantamento topobatimétrico dos principais rios, com disponibilização em bases de dados públicas. Esta ação deve ser cíclica, sendo que os levantamentos devem ser atualizados após modificações ocorridas nos cursos e calhas dos rios. - Ação técnica: Identificação de áreas de perigo de inundação, para, em futuro próximo, desenvolvimento de planos adequados de ocupação. - Ação técnica: Melhorias no sistema de alerta à população, com utilização de diferentes alternativas de comunicação (telefone celular, sirenes, alto‐falantes e outros) e com maior detalhamento das informações e das ações necessárias, buscando maior eficácia na comunicação. Ações de curto prazo (implementação em 3 a 6 meses): Ação técnica: Fortalecimento dos sistemas de monitoramento, previsão e alerta existentes, com maior quantidade de dados de precipitação e de níveis d’água nos rios, de modo a ter maior informação para a tomada de decisão. - Ação política-estratégica-institucional: Definição e fortalecimento institucional dos órgãos do governo responsáveis pelo monitoramento e previsão de inundações e desastres de origem hidrológica. - Ação político-estratégica-institucional: Fortalecimento das equipes da Defesa Civil, com incremento efetivo em equipamentos, pessoal e treinamento. - Ação técnica: Acelerar a implementação de melhorias propostas em editais recentes lançados pelo governo do estado, referentes a modelagem hidrológica‐hidrodinâmica para previsão de cheias e avanços no sistema de monitoramento em tempo real nos rios com potencial de inundação, baseado não apenas em previsão meteorológica, mas também em dados medidos nas estações hidrometeorológicas e hidrológicas. Ações de médio e longo prazo (ações permanentes, com início em até 6 meses): - Ação político-estratégica-institucional: Fortalecimento dos órgãos responsáveis pelo monitoramento e previsão de inundações com investimentos na contratação de pessoal com experiência e formação adequada comprovadas na área, bem como investimentos na qualificação continuada do corpo técnico. - Ação técnica: Instalação de uma rede densa de monitoramento hidrológico e hidrometeorológico automatizado e robusto, capaz de garantir a continuidade de medições e transmissão das informações mesmo quando há falta de energia elétrica, quando os níveis da água são superiores aos níveis máximos já registrados e nas condições mais adversas, com a disponibilização de dados em tempo real. - Ação técnica: Elaboração de estudos regionais de zoneamento de áreas inundáveis, incluindo considerações de alteração dos perigos de inundação e de eventos extremos através da análise de cenários de mudanças climáticas, para planificação de usos adequados. - Ação político-estratégica-institucional: Desenvolvimento de uma cultura de prevenção e compreensão de riscos relativos a eventos extremos e desastres, com conscientização da população sobre o risco de inundações em áreas habitadas, e popularização das ferramentas de gestão de risco, como mapas de perigo e de áreas de auto‐salvamento, de maneira disseminada na população, e também com inclusão desses elementos no currículo escolar de nível fundamental e médio. A arquiteta e urbanista Francine complementa que é preciso investir em tecnologias e auxiliar as equipes de ajuda de cada município. “É preciso equipar os centros de Defesa Civil com pessoal qualificado, tecnologias e equipamentos adequados. Criar centros de monitoramento e controle das áreas de risco. Elaborar planos de contenção de desastres e sistemas de alertas eficientes. Estabelecer rotas de fugas, alojamentos e depósitos de material de apoio. Esta (re)estruturação deve ter como base, uma cultura de prevenção, com ações de conscientização e sensibilização a respeito da realidade das mudanças climáticas. É preciso ensinar as pessoas a acompanhar os alertas, ensinar quais os tipos de desastres que elas poderão enfrentar e os impactos trazidos e a quem, como e onde elas podem buscar abrigo e ficar em segurança”, pontua. E 2024? E as projeções para 2024 não são positivas, pois o fenômeno deve permanecer influenciando o tempo. “A perspectiva é que este evento de El Niño persista durante o verão. Projeções de modelos de clima apontam que ao menos até o outono de 2024 o Pacífico deve permanecer na fase quente, influenciando o clima ainda nos primeiros meses do próximo ano. A probabilidade de o El Niño seguir no começo de 2024 é altíssima”, completa Estael. Assim, tanto setembro, quanto os próximos meses, devem ser marcados por chuva acima da média, com possibilidades de novas enchentes. As temperaturas mais altas serão mais frequentes. Com isso, temporais também estarão presentes. “Desastres hidrometeorológicos ou hidrológicos como os de 2023, incluindo as cheias do Taquari‐Antas ou o ciclone extratropical que causou imensos prejuízos e muitas mortes em junho desse ano, podem ocorrer novamente, seja pela variabilidade natural do clima ou pelo aumento da frequência e magnitude relacionados às mudanças climáticas, conforme as pesquisas cientificas apontam. Dessa forma, o estado do Rio Grande do Sul deve estar mais bem preparado para todos esses casos”, colocam os profissionais do IPH. *Este conteúdo esta aberto a contribuições, com fontes anexadas; Consideramos que, a ultima palavra sempre será das comunidades que sofrem as consequências e precisam se adaptar. Imagens: Estação arrancada - SGB/Divulgação Monitoramento - SGB/Divulgação Acumulado de chuva - SGB/Divulgação Sedimento após chuva - Divulgação Mapa da Bacia e Bacia - SEMA/Divulgação Instabilidade - SEMA/Divulgação Tiago - Arquivo pessoal/Divulgação El Niño - MetSul/Divulgação Barragens - Ceran/Divulgação Serviço Geológico do Brasil - SGB/Divulgação Enchente - Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

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