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  • Foto do escritorTela Tomazeli | Editora

Terça-feira de cinzas

No vazio carnavalesco desse ano de 2022 Gramado vive o contraste de um silêncio perturbador – o que mais nos entristece do que assusta. E para esconder a melancolia de nossas figuras São Pedro cobriu o feriado de Carnaval com densa cerração, querendo mascarar nossa solidão através uma romântica terça-feira de cinzas.

Os gramadenses não possuem essência natural muito festiva, mas a alegria reprimida durante todo o ano é sempre libertada nos dias carnavalescos, sob os auspícios de corajosa descontração, marcada pela santa irresponsabilidade global que domina essa época. Tamanha é essa diferença que não sabemos se nosso normal é o comportamento que demonstramos durante o Carnaval ou o que mostramos no restante do ano.

É bem curioso o motivo que nos torna vassalos do Rei Momo e do impulso que nos faz parecer fora do lugar, estranhos em nosso próprio espelho e nos daqueles que não perdem tempo em nos olhar. Ficamos a mercê de uma liberdade que não pede explicações. Mas, a explicação foi plantada em nossa forma de viver, sem que saibamos bem quando, como ou porquê: durante o carnaval nenhum gramadense trabalha.

Mas esse é um sentimento raro, vivido como preciosidade exclusiva por habitantes presos à sua terra por imortais laços de afeto. Contudo, os relativamente poucos donos do lugar, que o prepararam e o emprestam por prazer e por necessidade para o deleite alheio, continuam amarrados ao velho compromisso de não trabalhar nesses dias.

Então, nos dedicamos em contemplar a obra especial que essa cidade é. E aproveitar o inusitado silêncio, que acaricia nossas montanhas e obras, para definir as responsabilidades que temos com ela e divertir nossa imaginação com as alegrias que nossos antepassados desfrutaram, ao som das canções especiais de sua época.   

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