top of page
Foto do escritorTela Tomazeli | Editora

PADRE ARI ANTONIO SILVA – É preciso ter fé

(Jo 20,19-31) 2º Domingo após a Páscoa Reflexão mais breve da homilia dominical O apóstolo Tomé tornou-se símbolo da comunidade que questiona a Ressurreição de Jesus e exige prova para poder aceitá-la. Ele não aceitou o testemunho da comunidade, para quem Jesus havia aparecido e comunicado o dom do seu Espírito. O apóstolo condicionava sua fé à visão das chagas nas mãos de Jesus e ao tocar na ferida produzida pela lança. Este materialismo crasso o impedia de aderir ao Senhor pela fé. Jesus proclamou ser feliz que fosse capaz de chegar ao ato de fé, sem mesmo tê-lo visto. Ou seja, crer pelo testemunho da comunidade. Se a fé em Jesus dependesse de tê-lo visto, na terra, só um grupo privilegiado de discípulos, num determinado contexto histórico e geográfico, teria acesso à fé. Uma vez que isto não é necessário, qualquer pessoa em qualquer tempo ou lugar pode chegar à fé, tal como a comunidade primitiva. Por conseguinte, a fé nos ressuscitado, dá-se pelo testemunho da comunidade e se propaga pela tradição, que vai abarcando o mundo inteiro. O Ressuscitado já não está limitado a um tempo ou a um lugar específico. Ele pode sempre ser encontrado e acolhido, por quem nele deposita sua fé. Certas exigências inconvenientes, como a de Tomé, podem inviabilizar o processo da fé e impedir um encontro libertador com o Senhor. Amém 2º Domingo após a Páscoa (Versão mais aprofundada do texto blíbico) Não sejas incrédulo (Jo 20,19-31) Alegria e paz: Não era fácil aos discípulos expressar o que estavam vivendo. Podemos vê-los recorrer a todo tipo de recursos narrativos. O núcleo, por, porém é sempre o mesmo: Jesus vive e está de novo com eles. Isto é decisivo. Recuperam Jesus cheio de vida. O que se percebe no texto é a alegria que todos viviam por verem novamente o Senhor. Entretanto, não será mais como na Galileia. Terão que aprender a viver a fé, encher-se de seu Espírito. Terão de recordar suas palavras e atualizar seus gestos. Mas Jesus, o Senhor, está com eles, cheio de vida para sempre. É bom frisar que todos experimentam o mesmo: uma paz profunda e uma alegria que não se pode conter. As fontes evangélicas, sempre tão sóbrias para falar de sentimentos, o sublinham constantemente: O Ressuscitado desperta neles uma profunda paz e uma alegria. Esta experiência é tão central que se pode dizer, sem exagerar, que desta paz e desta alegria nasceu a força evangelizadora dos seguidores de Jesus. Onde está hoje esta alegria numa Igreja às vezes tão cansada, tão séria, tão pouco dada ao sorriso, com tão pouco humor e humildade para reconhecer seus problemas, seus erros e limitações? Onde está paz numa Igreja tão cheia de medos, tão obsessionada  com seus próprios problemas, buscando tantas vezes sua própria defesa e vez de buscar a felicidade das pessoas? Até quando vamos poder continuar defendendo nossas doutrinas de maneira tão monótona e aborrecida, se ao mesmo tempo não experimentamos a alegria de “viver em Cristo”? A quem atrairá nossa fé, se às vezes já não podemos nem dar a entender que vivemos dela? E, se não vivemos do Ressuscitado, quem vai encher nosso coração, onde vamos alimentar nossa alegria? E, se falta a alegria que brota dele, que vai comunicar “algo novo e bom” aos que duvidam, quem vai ensinar a crer de maneira mais viva, quem vai transmitir esperança aos que sofrem? Viver de sua presença: O relato de João não pode ser mais sugestivo e interpelador. Só quando veem Jesus ressuscitado no meio deles, os discípulos se transformam. Recuperam a paz, seus medos desaparecem, enchem-se de uma alegria desconhecida, notam o sopro de Jesus sobre eles e abrem as portas, porque se sentem enviados a viver a mesma missão que Ele havia recebido do Pai. A atual crise da Igreja, seus medos e sua falta de vigor espiritual têm sua origem num nível profundo. Com frequência a ideia da ressureição de Jesus e de sua presença no meio de nós é mais uma doutrina pensada e pregada do que uma experiência vivida. Cristo ressuscitado não está no centro da Igreja, mas sua presença viva não está arraigada em nós, não está incorporada à substância de nossas comunidades, não nutre de ordinário nossos projetos. Depois de vinte séculos de cristianismo, Jesus não é conhecido e compreendido em sua originalidade. Não é amado nem seguido como o foi por seus primeiros discípulos e discípulas. Assim que um grupo ou uma comunidade cristã se sente habitada por essa presença invisível, mas real e operante, de Cristo ressuscitado, isso se faz notar. Não se contenta com seguir rotireinamente as diretrizes que regulam a vida eclesial. Possuem uma sensibilidade especial para ouvir, buscar, recordar e aplicar o Evangelho de Jesus. São os espaços mais sãos e vivos da Igreja. Nada nem ninguém pode trazer-nos hoje a força, a alegria e a criatividade de que necessitamos para enfrentar uma crise sem precedentes, como pode fazê-lo a presença viva de Cristo Ressuscitado. Privados de seu vigor espiritual, não sairemos de nossa passividade quase inata, continuaremos com as portas fechadas ao mundo moderno, seguiremos fazendo “o mandado”, sem alegria nem convicção. Onde encontraremos a força de que precisamos para recriar e reformar a Igreja? Abrir as portas: O Evangelho de João descreve com traços obscuros a situação da comunidade cristã quando em seu centro falta Cristo ressuscitado. Sem sua presença viva, a Igreja se converte num grupo de homens e mulheres que vivem “numa casa com as portas fechadas, por medo dos judeus”. Com as portas fechadas não se pode ouvir o que acontece lá fora. Não é possível captar a ação do Espírito no mundo. Não se abrem os espaços de encontro e diálogo com ninguém. Apaga-se a confiança no ser humano e crescem os receios e preconceitos. Mas uma Igreja sem capacidade de dialogar é uma tragédia, pois os seguidores de Jesus são chamados a atualizar o eterno diálogo de Deus com o ser humano. O medo pode paralisar a evangelização e bloquear nossas melhores energias. O medo nos leva a rejeitar a condenar. Com medo não é possível amar o mundo. Mas, se não o amamos, não o olhamos como Deus o olha. E, se não o olhamos com os olhos de Deus, como comunicaremos a Boa Notícia? Nossa primeira tarefa é deixar entrar o Ressuscitado através de tantas barreiras que levantamos para defender-nos do medo. Que Jesus ocupe o centro de nossas Igrejas, grupos e comunidades. Que só Ele seja fonte de vida, de alegria e de paz. Que ninguém ocupe seu lugar, que ninguém se aproprie de sua mensagem. Que ninguém imponha um modo diferente do seu. Não sejas incrédulo: A figura de Tomé, como discípulo que resiste a crer, foi muito popular entre os cristãos. No entanto, o relato evangélico diz muito mais deste discípulo cético. Jesus se dirige a ele com palavras que têm muito de coação, mas também de convite amoroso: “Não sejas incrédulo, mas crente”. Tomé que leva uma semana resistindo a crer, responde a Jesus com a confissão de fé mais solene que podemos ler nos evangelhos: “Meu Senhor e meu Deus”. Percurso para a fé: Os discípulos dizem a Tomé que eles tinham visto Jesus. Tomé recusou a acreditar. Por que acreditaria em algo tão absurdo? Como podem dizer que viram Jesus cheio de vida, se Ele morreu crucificado? Os discípulos lhe dizem que Jesus lhes mostrou suas chagas das mãos e o lado. Tomé não pode aceitar o testemunho de ninguém. Precisa comprová-lo pessoalmente: “Se eu não vir em suas mãos o sinal dos cravos...e não meter a mão na chaga do lado, não acreditarei”. Só vai crer em sua própria experiência. Este discípulo que resiste a crer de maneira ingênua vai ensinar-nos  a nós que jamais vimos o rosto de Jesus, nem ouvimos suas palavras, nem sentimos seus abraços – o percurso que devemos fazer para chegar à fé em Cristo Ressuscitado. Por outro lado, sua resistência a crer revela sua honestidade. Jesus entende e vem a seu encontro mostrando-lhe suas feridas. Tomé, o discípulo que fez um percurso mais longo e trabalhoso que ninguém até encontrar-se com Jesus, chega mais longe que ninguém na profundidade de sua fé: “Meu Senhor e meu Deus!” Ninguém fez uma confissão como esta a Jesus. Não devemos assustar-nos ao sentir que brotam em nós dúvidas e interrogações. As dúvidas vividas de maneira sadia nos resgatam de uma fé superficial que se contenta com repetir fórmulas, sem crescer em confiança e amor. As dúvidas nos estimulam a ir até o final em nossa confiança no Mistério de Deus encarnado em Jesus. A fé cristã cresce em nós quando nos sentimos amados e atraídos por esse Deus cujo rosto podemos vislumbrar no relato que os evangelhos nos fazem de Jesus. Então, seu convite a confiar tem em nós mais força do que nossas próprias vidas. “Felizes os que não viram e creram” Façamos nossa oração: Senhor Jesus, dá-nos um coração simples que saibamos acolher o testemunho da Ressurreição que nos chega pelo testemunho de nossos irmãos na fé. Amém “A responsabilidade pelo conteúdo é única e exclusiva do autor que assina a presente matéria”.

Comentarios


Notícias Recentes