(Lc 17,11-19) 28º Domingo do Tempo Comum O modo como os leprosos agem em relação ao benefício de Jesus corresponde às nossas atitudes perante a misericórdia divina. No seu desespero, os leprosos recorrem a Jesus, implorando piedade. Era insuportável a situação em que se encontravam, vítimas da doença. Mesmo para recorrer ao Mestre, deviam manter-se à distância, como mandava a Lei. Esta os obriga a andar com as vestes rasgadas, com os cabelos desgrenhados e a barba coberta. E mais, deveriam habitar fora da cidade, e gritar: “impuro, impuro”, quando alguém se aproximasse, para evitar a contaminação. Situação dolorosa! A súplica pungente do grupo de doentes encontra guarida no coração de Jesus. Ele os atende imediatamente, ordenando que se apresentem aos sacerdotes, com se já estivessem curados. Só um sentiu-se motivado a voltar atrás e agradecer a quem o havia curado. Jogou-se aos pés de Jesus, dando gritos de louvor a Deus. E este era um samaritano, membro de um povo inimigo dos judeus, visto com desprezo. A gratidão brotou-lhes espontânea do coração. Já os outros nove, judeus de origem, esqueceram-se de agradecer. Assim, deram mostras de não ter dado o passo da fé, reconhecendo a condição messiânica de Jesus. E perderam a chance de receber os benefícios da salvação. Recuperar a gratidão Houve quem dissesse que a gratidão está desaparecendo da “paisagem afetiva” da vida moderna. O conhecido ensaísta José Antonio Martina recordava recentemente que a passagem de Nietzsche, Freud e Marx nos deixou submersos numa “cultura da suspeita” que torna difícil o agradecimento. Desconfia-se do gesto realizado por pura generosidade. De acordo com o professor acima citado, “tornou-se dogma de fé que ninguém dá nada de graça e que toda intenção boa oculta uma impostura”. É fácil então considerar a gratidão como ‘um sentimento de bobos, de equivocados ou de escravos”. Não sei se esta atitude está tão generalizada. Mas é certo que em nossa “civilização mercantilista” há cada vez menos lugar para o gratuito. Tudo se troca, se empresta, se deve ou se exige. Neste clima social a gratidão desaparece. Cada um tem o que merece, o que ganhou com seu próprio esforço. A ninguém se dá nada de presente. Algo semelhante pode acontecer na relação com Deus se a religião se transforma numa espécie de contrato com ele: “Eu cumpro o que está estipulado e tu me recompensa.” Desaparecem assim a experiencia religiosa o louvor e a ação de graças a Deus, fonte e origem de todo bem. Para muitos cristãos, recuperar a gratidão pode ser o primeiro passo para sanar sua relação com Deus. Este louvor agradecido não consiste primariamente em tributar-lhe elogios nem em enumerar os dons recebidos. A primeira coisa é captar a grandeza de Deus e sua bondade insondável. Intuir que só se pode viver diante dele dando graças. Esta gratidão radical a Deus produz na pessoa uma forma nova de olhar para si mesma, de relacionar-se com as coisas e de conviver com os outros. O cristão sabe ser agradecido de sua existência inteira é um dom de Deus. As coisas que o rodeiam adquirem uma profundidade antes ignorada: não estão aí como objetos que servem para satisfazer necessidades, mas são sinais da graça e da bondade do Criador. As pessoas que ele encontra em seu caminho são também dom e graça: através delas se oferece ao homem de fé a presença invisível de Deus. Dos dez leprosos curados por Jesus, só um volta, “glorificando a Deus” e só ele ouve as palavras de Jesus: “Tua fé te salvou”. O reconhecimento prazeroso e o louvor a Deus sempre são fonte de salvação. Um dos maiores pecados dos cristãos é a falta de louvor e de ação de graças. O célebre moralista Bernhard Häring diz o seguinte: “A Igreja será cada vez mais uma Igreja curadora quando for uma Igreja mais glorificadora e eucarística. É o caminho da salvação: sempre e em toda ocasião é digno e justo dar graças e Deus e louvá-lo Façamos nossa oração: Espírito de agradecimento, torna-nos sensíveis aos benefícios que nós recebemos cada dia, e dá-nos um coração que seja sempre capaz de agradecer. Amém. “A responsabilidade pelo conteúdo é única e exclusiva do autor que assina a presente matéria”.
Tela Tomazeli | Editora
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